Desde os primórdios do cristianismo, os padres da Igreja meditaram e escreveram sobre as razões que fazem da Virgem uma criatura de tal modo excelsa, que é digna de um culto todo especial. E foram unânimes em afirmar um só motivo: ela é a Mãe de Deus e, por vontade do próprio Deus, mãe de todos os homens.
"Mas, então", comenta são Cirilo de Alexandria, "a Virgem seria a mãe da divindade? A isso respondemos: o Verbo vivo, subsistente, foi gerado pela mesma substância de Deus Pai, existe por toda a eternidade, conjuntamente com aquele que o gerou, está nele, com ele. Mas se fez carne no tempo, isto é, uniu-se a uma carne dotada de alma racional; por isso, pode-se dizer que ele nasceu da mulher, segundo a carne. Esse mistério tem alguma analogia com nosso próprio processo de geração."
De fato, a Mãe gera os membros do filho, mas Deus é que infunde a alma; apesar disso, ela é a mãe de um ser vivo, da criança inteira, alma e corpo. A solenidade de hoje, que, por causa da reforma litúrgica, tomou o lugar da festa 'in octava Domini", a Circuncisão, é a mesma que se celebrava a 11 de outubro, em memória do Concílio de Éfeso (431), do qual são Cirilo foi um dos protagonistas.
Ao dogma decretado pelo concílio se liga outra verdade, para nós reconfortante, que é relativa à maternidade espiritual de Maria. Escreve são Pio X: "Nas mesmas entranhas puríssimas da Mãe, foi formada a carne de Cristo e ao mesmo tempo seu corpo espiritual, constituído dos futuros fiéis. Assim, de uma maneira espiritual e mística, nós nos chamamos filhos de Maria, e ela é Mãe de todos nós".