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Quinta-feira, 25 de Abril de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 13 de janeiro
O olhar
O olhar
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Encontrar pelo caminho uma amendoeira em flor, parar para sentir a sua beleza, acolhê-la em nós mesmos... Assim como uma árvore pede para ser notada por aqueles que passam, o seu esplendor iluminará o olhar daquele que a percebe. Nós somos filhos da felicidade ou da desventura que encontramos em nosso caminho.

Olhar é deixar-se invadir por aquilo que cerca você, sem demonstrar medo ou angústia. Será como um lago tranquilo, onde docemente repousará uma montanha desfrutando ver e rever a própria imagem, sem ser julgada...
Olhar será fechar os olhos e deixar que o outro repouse dentro de você, sem aquele gesto de defesa ou de repulsa que seria natural.
Olhar convida-o a uma atitude de confiança, que espera encontrar antes de se separar, de receber antes de discernir.

Mas o olhar é também o primeiro passo para o amor. Porque será exatamente nesse instante que os seus olhos falarão do significado mais belo para o qual foram feitos, o de privilegiar.
Diferentemente do ouvido que, sinfonicamente, capta tudo aquilo que o circunda, o seu olhar repousará sobre um objeto ou sobre um rosto, por muito tempo, porque escolheu fazê-lo.

Ao contrário, o olhar que não ama manterá as distâncias para, longe, poder julgar.
Demonstrará domínio sobre a realidade da qual se aproxima para dominá-la, mas não será, certamente, o olhar de um médico que cura, com amor, o mal que encontra...
Olhar: uma relação abre-se, uma relatividade transforma-se em experiência concreta.
Tudo existe, mas não por meio de você, de um ponto de vista particular como o seu, diferente do de qualquer outra criatura humana.

Porque você olhará, mas será a sua história, serão a sensibilidade e as expectativas escondidas em você mesmo a distinguir uma parte da realidade.
Ou somente uma parte da verdade, que, por ser tão grande, um só homem não pode contê-la.
E serão os olhos do coração e da inteligência que repousarão em volta de você e saberão se abrir e, talvez, contemplar...

Contemplar é tornar grande o que já é imenso. Sem palavras, é dizer da bondade de um ser, afirmar-lhe o imenso valor que tem para você.
É alegrar-se por aquilo que foi criado, como Deus ao término de sua obra, e saborear o sentido de fazer parte do conjunto.
O olhar, no fundo, é uma janela aberta em sua direção e na do próximo, para dizer de uma relação que pode nascer e, com ela, uma vida a dois.
Então a tolerância existirá na qualidade de um olhar.

Renato Zílio, do livro: 'Elogio do Encontro', Paulinas Editora.