Se a vida é vocação, com certeza, é também provocação. Nossos mecanismos naturais tendem, espontaneamente, a nos acomodar. Desde o ventre da mãe, se a criança gerada pudesse optar, preferiria permanecer na dependência do cordão umbilical e na proteção segura daquele espaço que a concebeu e no qual foi sendo gestada.
A primeira grande provocação da vida é a passagem do primeiro parto. Ali se rompem as seguranças imediatas e passa-se para o desconhecido, a um outro ventre, sem limites, e surpreendente. Na aventura do novo mundo a pessoa começa o grande caminho no cenário das mais diversas e surpreendentes provocações.
É normal na primeira etapa da vida a dependência do permanente receber. Faz parte do direito da criança ser egocêntrica. Porém, à medida que se cresce também são necessárias doses de provocação, para que as etapas evolutivas da vida não fiquem estagnadas na infância. Não há situação mais desconfortável do que imaginar-se uma criança grande, ou conviver com adultos infantis.
A medida diária das provocações precisa ser bem dosada para não comprometer ou queimar etapas. Na realidade, se há adultos crianças, há crianças adultas, antes do tempo, que passam o resto da vida insatisfeitas por não terem vivido sua infância. Creio que o amor verdadeiro sempre encontra a justa medida das provocações na hora certa. Ouso afirmar que são preferíveis mais e maiores provocações de acomodações no meio de panos quentes da superproteção.
Se analisarmos as grandes vocações bíblicas, como a de Abraão, pai da fé, a de Moisés, dos Profetas, e de Maria, perceberemos nitidamente que na vocação que Deus confiava, estava uma grande provocação: “Sai da tua terra e vai...” (Gn 12,1). “Eu vi a opressão do meu povo no Egito, ouvi o seu grito de aflição... E agora, vai!” A estas provocações de Deus, brotam as reações e resistências dos chamados. Um se diz gago, outro criança, Maria não entende e questiona... Enfim não parece ser próprio do “gostar” o sentir-se provocado.
Deixar-se provocar é crescer! Evidentemente este tipo de provocação, não pode ser confundido com a provocação que brota da sedução mórbida, de quem busca explorar a outra pessoa, menos ainda, a provocação de quem incita uma briga para manifestar valentia. A provocação aqui mencionada é aquela que nos desafia à superação, à missão e ao despertar de dons adormecidos que habitam em nós.
Como faz bem para a pessoa ouvir expressões como estas: “Você pode! Você tem capacidades! Não desista de perseguir seus objetivos e sonhos! Coragem! Além de uma palavra, é importante um gesto de apoio, um colocar-se ao lado para oferecer o ombro amigo e favorecer oportunidades de promoção e crescimento.
Evidentemente, além da provocação que as pessoas e situações podem nos fazer, também é importante deixar-se provocar por Deus que nos confia seus dons e pelo dinamismo de nossa liberdade responsável. Por fim, teremos a grande provocação do segundo parto para a eternidade, diante da qual não há como desculpar-se e nem fugir.
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