Não há como negar que os dias da vida se sucedem e nós passamos pelo tempo como nossa oportunidade. Se a vida é um chamado que é fruto do amor confiante de Deus a cada pessoa, nela está concomitantemente uma missão a ser cumprida no tempo que nos é dado na história. Insistimos em afirmar que ninguém vem ao mundo por nada e menos ainda para fazer o mal.
Quando o profeta Jeremias recebe a missão de ser profeta para as nações, ele responde a Deus: “Ah! Senhor Deus, não sei falar, sou uma criança”. O Senhor lhe respondeu: “Não digas: ‘Sou uma criança’, pois a quantos eu te enviar irás, e tudo o quanto eu te mandar dizer, dirás. Não tenhas medo deles, pois estou contigo para defender-te” (Jr 1,6-8).
Quando Moisés recebe a missão de libertar o seu povo no Egito, resiste e tenta se justificar por ser gago. Mas Deus insiste e lhe garante a ajuda de seu irmão Arão, homem de boa eloquência. Até a humilde jovem Maria, ao ser escolhida para a missão de ser Mãe de Jesus, se dá o direito de questionar o Anjo. Deus não chama ninguém para pouca coisa. Quem se apequena e tenta diminuir a responsabilidade da missão é a pessoa. Ao natural é sempre mais fácil se acomodar e se justificar.
Não podemos esquecer que entre os humanos há também um instinto de morte que, ao natural tenta anular os outros no êxito de sua missão, para garantir uma autopromoção. O êxito da missão não vem pela medida da quantidade, mas pelo nível da qualidade e magnanimidade das intenções, das decisões e do amor. Bem dizia a Madre Tereza de Calcutá: “Em geral, não temos oportunidades de fazer grandes coisas, mas sempre podemos fazer as coisas, mesmo pequenas, com grande amor”.
Há situações de duras provações, enfrentadas por pessoas e famílias que acompanham com carinho a enfermidade, e a morte de pessoas queridas, que podem ser amenizadas com uma simples expressão: “Missão cumprida!” Quantas vezes já comprovei o efeito positivo desta certificação. A certeza da missão cumprida gera paz, alegria interior e ânimo de continuar. Porém, quando se abandona a missão a ser cumprida, logo vem o desconforto e até o remorso de não ter feito o que se devia fazer a alguém que era merecedor.
Citei o exemplo acima para confirmar o quanto a vida cobra de nós no cumprimento da missão, mas também o quanto compensa administrar, cada dia, procurando fazer com dedicação o melhor que nos cabe fazer. Omitir-se em assumir a própria missão é caminhar para o vazio de uma vida sem sentido.
Na proposta das Bem-aventuranças que o Cristo apresenta, está o caminho para a missão cumprida, como segredo de vida. O Papa Francisco falando aos jovens da Holanda diz que as Bem-aventuranças são o segredo para uma vida nova e intensa. Por que “viver sem fé, sem um patrimônio para defender, sem sustentar uma luta constante na missão, não é viver, mas apenas sobreviver”.