Uma das sérias observações feitas ao nosso tempo e à nossa sociedade pós-moderna, refere-se ao roubo da alegria de viver. Também aqui não são nomeados assaltantes. Eles não têm rosto, nem armas, mas subliminarmente agem sem ação, tiram sem ter mãos e passam sem ter pés. O roubo da alegria parece ser um dos mais sérios prejuízos à convivência humana. Por que andamos assim, tão sérios, com rostos fechados? Por que os humoristas não ensinam o Bom humor? O que nos rouba a alegria?
Como um raio de luz no meio da noite, o Papa Francisco presenteou à humanidade um programa de vida para a Igreja de nosso tempo com a exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”. Já de início ele alerta: “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é a tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais da consciência isolada... Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida” (AE n. 2).
Logo em seguida a esta advertência, o Papa Francisco nos convida a nos deixarmos encontrar pelo Senhor: “Da alegria trazida pelo Senhor, ninguém é excluído... Quem arrisca, o Senhor não o desilude” (AE n. 3). Esta é a alegria de base que o mundo não pode tirar. Para cultivá-la e garanti-la necessitamos de uma luta paciente, perseverante e teimosa, pois as ofertas de alegrias passageiras invadem a nossa superficialidade e querem se tornar agentes de uma alegria imediata, mas fugaz. Ser uma pessoa alegre e ter apenas algumas alegrias, é o que faz a diferença.
Temos o sagrado direito da alegria! Esta é um reflexo de uma vida rica de sentido, de poder andar em caminhos abertos, de horizontes amplos e esperançosos. É a alegria de sentir-nos habitados e não solitários na aventura da vida. Encontrar o Cristo é o mesmo que encontrar o verdadeiro mestre da alegria. O sermão da montanha abre-se com a solene proclamação da alegria dos pobres, dos pacientes, dos aflitos, dos que têm fome e sede de justiça, dos misericordiosos, dos puros de coração, dos que promovem a paz e dos perseguidos por causa da justiça.
“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4). O que nos intriga nas palavras de Paulo é a palavra “sempre”. Algum tempo de alegria e algumas experiências rápidas acontecem, mas “sempre” é a questão. Em sua experiência com o Senhor, Paulo se dá o direito de dizer que é possível cultivar sempre este tipo de alegria de base.
Ao pensarmos em Francisco de Assis e sua definição da “perfeita alegria”, ficamos admirados quando nos diz ser possível vivê-la no desconforto total da rejeição até mesmo dos próprios confrades. Creio que seu cântico das criaturas, verdadeira explosão de alegria, seja a maior prova daquela alegria que ele sempre cultivou na raiz de seu ser redimido. No meio da dor proclamou e compôs o mais significativo hino de amor e de alegria.
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