Com frequência ouvem-se desabafos angustiantes e sinceros, de muitos pais, avós e até religiosos que lamentam a distância de seus filhos e das novas gerações das práticas religiosas. Ao experimentar certas situações não faltam expressões como estas: “A fé está se indo!”... “Não é mais como antigamente!”... “Estamos perdidos!”.
Não faltam aqueles que compram brigas, insistindo na obrigação das práticas e até acenam para desgraças que ameaçam os indiferentes. A tática da imposição e a apelação para o medo parece ser uma estratégia que produz efeito contrário. É bom lembrar o que nos diz a carta de João: “No amor não há temor; ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor implica um castigo, e o que teme não chega à perfeição do amor” (1Jo 4,18).
Não podemos esquecer que houve um tempo em que todo o mundo ocidental era cristão. Todas as atividades se deixavam orientar pelo cristianismo, mais precisamente pela Igreja: a ciência, a literatura, as artes, as instituições políticas e sociais etc... Por ser um fenômeno de massa, o cristianismo era mais uma religião sociológica, do que fruto de uma adesão pessoal livre, consciente e responsável.
Hoje, vivemos uma situação contrária. Pretende-se retirar Deus do mundo, da cultura e das instituições. No entanto, o que se constata é que as razões de crer e não crer se tornam cada vez mais fortes e mais vivas. Não nos enganamos quando afirmamos que o clima de nosso momento favorece mais o ateísmo ou a indiferença religiosa do que a fé cristã. Nesta realidade, para muitos, a situação se torna uma ocasião de aprofundamento da fé e, para outros tantos, uma ocasião de abandono.
Nesta “mudança de época”, o que nos cabe pensar e fazer? Seria melhor nos situar como assistentes passivos, ou com o passar do tempo, ver as consequências? Poderíamos voltar a ser combativos e bater de frente com a descrença, ou até polemizar com os que pensam de modo diferente? Quais seriam os caminhos para uma fé renovada?
Diante das muitas inquietações da fé, lembrei-me da parábola da árvore na montanha. Quando estava no meio do bosque cerrado, podiam chegar ventos fortes e tempestades que ela se sentia protegida pelas outras que lhe davam segurança. Porém, quando o agricultor derrubou o bosque e a deixou sozinha no descampado, as coisas mudaram.
Cada vento e cada tempestade era uma ameaça a sua queda, pois não tinha mais a proteção a seu lado. Depois de uma longa crise ela decidiu firmar e aprofundar as raízes. Só então se sentiu segura para crescer e se expandir.
Não podemos mais fazer depender a qualidade da fé pela unanimidade dos que creem. Todo o tipo de ventania se abate sobre a humanidade em tempos de mudanças rápidas, profundas e globais. Nesta fase da história os novos ventos de Pentecostes estão a exigir decisões pessoais conscientes e livres para que as raízes da fé garantam a fecundidade geradora de novas comunidades.
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