Habitualmente as nossas Bíblias apresentam o canto de Isabel na forma de prosa; mas muitos exegetas notam que, realizando uma “retrotradução” do grego ao aramaico, logo reaparece o sopro poético.
Tu és bendita entre todas as mulheres
E bendito é o fruto do teu ventre.
De onde me vem a grande honra
De vir a mim a mãe do meu Senhor?
Porque, como tu vês,
Desde que a tua saudação
Chegou ao meu ouvido,
O filho estremeceu de alegria
No meu seio.
Sim, bem-aventurada aquela
Que acreditou no cumprimento
De quanto lhe foi dito
Da parte do Senhor. (Lc 1,42-45)
REFLEXÃO:
É o primeiro canto endereçado a Maria: ela é bendita; ela é a mãe do Senhor. A sua saudação faz estremecer de júbilo o pequeno João Batista. Ela é declarada bem-aventurada. É realmente a mãe, Maria, que é exaltada.
Mas este canto apresenta uma riqueza espiritual única. Em Maria repousa a primeira bênção dos Evangelhos. Uma mãe idosa abençoa a jovem mãe. É bênção de vida: a mãe e o menino são envoltos na mesma bênção; a mãe e o filho são inseparáveis; Maria e Jesus não podem mais ser dissociados.
Finda a estrofe da bênção, Isabel dá a Maria o maior título que se possa atribuir-lhe, porque Isabel confere ao menino o maior título que lhe pertence: Senhor. Aliás, com a afeição e com a fé contidas no possessivo, ela diz “meu Senhor”. Maria é a “Mãe do meu Senhor”. Este título dado ao menino confirma a sua divindade; ele exprime a fé da Igreja de Lucas dos anos oitenta.
Depois o canto se desenvolve na contemplação da primeira bem-aventurança dos Evangelhos: “Feliz és tu porque acreditaste”. Esta bem-aventurança da fé é a base de todas as outras. Para chegar às bem-aventuranças de Jesus, formulada nas palavras “felizes vós os pobres”, cumpre ter fé. Esta bem-aventurança da fé é também a última dos Evangelhos: “Bem-aventurados antes aqueles que creram sem ter visto” (Jo 20,29). Maria vive a maior das bem-aventuranças, que é a fé. João, em Caná, também faz de Maria o modelo da fé. Maria é a primeira a viver uma fé cuja razão e meta é Jesus; Maria é a primeira que vive uma fé cristã.
ORAÇÃO:
Virgem Maria, Mãe de Deus, Tu és o incensório de ouro, que trouxe o carvão aceso.
Bendito aquele que o recebe do santuário, porque ele perdoa os pecados e destrói as faltas.
Ele é o Verbo do Senhor, que se encarnou em ti, Aquele que se ofereceu ao próprio Pai como incenso e sacrifício agradável.
Regozija-te, Virgem Maria, Santa Mãe de Deus, verdadeira advogada, do gênero humano.
Roga por nós em presença de Cristo, Teu Filho.
(Da liturgia copta da Etiópia)