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Terça-feira, 30 de Abril de 2024
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Mensagem do dia 20 de setembro
A família que está em mim
A família que está em mim
Pixabay

Conta-se que em 1938 no campo de concentração de Dachau, Alemanha, no meio das torturas e humilhações, um prisioneiro foi interrogado por um companheiro sobre a sua família de origem e a experiência de dor da separação. Com sabedoria, o prisioneiro respondeu que a dor profunda de seu coração não vinha da separação familiar, mas da indignação de estar vivendo a atrocidade que o fazia companheiro de tantos inocentes, vítimas da inexplicável maldade humana.

O companheiro de infortúnio insistiu em perguntar a respeito da dor da separação familiar. Foi então que ele respondeu: “Eu sei amenizar esta dor, porque, perto ou longe, no infortúnio ou na esperança, a família está em mim”. Esta declaração pode parecer simplista e pequena, mas carrega consigo uma verdade de imenso significado.

Cada leitor, onde quer que esteja, sabe que não é um ser desvinculado e avulso, nem alguém que apareceu por geração espontânea. A família está em mim! Até certa medida eu posso dizer “eu sou eu!”. Porém, em outra medida, tão importante quanto a primeira, eu devo dizer: “eu sou nós!”, isto é, família, comunidade e humanidade.

É desastroso para a pessoa ver-se e tratar-se como alguém desvinculado, cujo ser proclama total individualismo e autonomia. Talvez aqui se encontre uma das graves causas de tantas famílias que se constituem e logo se dissolvem. Pior ainda, quando, a uma falência familiar, sucede-se uma segunda, uma terceira ou mais. A grande competência para constituir família, começa pelo ser família que a pessoa em si mesma deve cultivar.

A relação com o outro ou a outra, começa na interioridade, onde a pessoa cultiva uma sadia abertura para a alteridade. É bem verdade que existem pessoas com quem todos gostariam de conviver, mas em contrapartida, existem outras com quem ninguém consegue conviver. Isto não depende do nível cultural, nem de classe social, nem da pertença religiosa. Ser família é um dom que já nos é concedido com a vida e a graça da convivência. Porém, tornar-se família é uma tarefa a ser exercitada no cotidiano de nossa história, desde o início até o fim.

Nesta experiência de família que está em mim, é importante a consanguinidade, mas ser família é muito mais. O próprio Cristo nos questionou sobre este assunto e nos respondeu: “Quem é a minha Mãe e quem são os meus irmãos?”. E, olhando em volta para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Eis minha Mãe e meus irmãos. Pois quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe” (Mc 3,33-35).

Concluindo, podemos dizer que a família que está em mim me permite uma globalidade de relações enriquecedoras, desde as primárias e humanas, até as mais divinas e infinitas. Sabe-se muito bem o preço para harmonizar a individualidade com a familiaridade, pois todos somos diferentes, mas é nesta diferença que a unidade se torna fecunda e se enriquece. A família está em mim!

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.