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Terça-feira, 30 de Abril de 2024
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Mensagem do dia 14 de dezembro
A verdade nos libertará
A verdade nos libertará
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Dizem que ninguém é dono da verdade. Aliás, seria um desastre se algum humano o fosse, pois estaria se atribuindo a igualdade com Deus e a falsa supremacia sobre os humanos. A história sabe do preço que sempre se pagou pelas ditaduras e totalitarismos. Toda a forma de opressão, seja política, social, econômica ou religiosa é uma negação frontal à verdade.

Não somos donos da verdade, porém, necessitamos estar sempre atentos e abertos à verdade. Esta carrega em si um mistério que supera todos os esforços de formulação e utilização. Para a verdade não ser mutilada, necessitamos o suporte religioso, pois a religião é inseparável da realidade e, por consequência também da verdade.

Pela fé nos relacionamos com a verdade que liberta. Esta sempre nos coloca numa tensão entre o “já” do que sintonizamos e o “ainda não” que procuramos. Somos peregrinos em busca da verdade maior. Essa verdade não se constitui num mundo à parte. Sabemos que existem os defensores de duas verdades, uma para o campo científico e outra para o campo religioso-moral. A verdade, no entanto, é uma só, embora se manifeste de muitos modos.

Quando criamos o jogo das oposições no campo da mesma vida, todos perdemos. A vivência religiosa necessita se colocar em harmonia com a vivência científica e com as práticas do dia a dia. A verdade que liberta é sempre dialogal. Cada vez que procuramos aproximar as diferenças e iluminar os divergentes caminhos com a luz da fé e a prática do diálogo, mais próximos nos encontraremos da verdade.

Santa Tereza de Jesus nos deixa um testemunho precioso sobre a verdade libertadora que ela acolheu na infância. Ela mesma se admira que em sua vida “tenha ficado impresso o caminho da verdade”. Após a tempestade da adolescência, na companhia de uma monja, ressuscitou aquela verdade que jazia no fundo do seu ser. Dizia: “Comecei a entender a verdade de quando eu era criança”. Tereza sentia a verdade que sobrevivia como brasa sob a cinza de seu ser. Deus se tornou a única verdade a lhe interessar. As outras verdades são mediações como partículas de luz no universo de trevas.

É significativa a declaração de Jesus aos judeus: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32-32). Em seguida, Jesus confirma ser ele a verdade que liberta: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Jesus revela a verdade de Deus e também a verdade dos humanos.

Em tudo Jesus revela a verdade, seja no seu agir, por seu ser e em suas palavras: “Nós vimos a sua glória, glória que recebeu do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). No momento mais ameaçador da vida de Jesus, quando preso, disse a Pilatos: “Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Pilatos lhe disse: “Que é a verdade?” (Jo 18,37-38). Nenhuma resposta lhe é dada, já que o condenaria por mesquinha e mentirosa conveniência.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 02.