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Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024
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Mensagem do dia 13 de setembro
Amizade de guarda-chuva
Amizade de guarda-chuva
Pixabay

Dentre os tantos esquecidos, eu sou um deles. Nestes dias andei fazendo uma meditação que brotou de repetidos esquecimentos. Por incrível que pareça, o objeto esquecido que me fez pensar foi o guarda-chuva. Não são todos os dias, dias de chuva. Nem a chuva cai sem parar, de dia e de noite. A maioria dos dias e das noites são dias de sol ou de luar. Podemos dizer que no decurso do tempo os dias e as noites de chuva acontecem como algo extraordinário.

Neste cenário minha referência é o guarda-chuva. Em dia de chuva o queremos junto; apreciamos sua ajuda; precisamos de sua proteção e lhe damos um valor imenso, mesmo que o compremos na rua, a preço baixo e insignificante. Ninguém estranha ver uma multidão com guarda-chuva aberto em dia de temporal. Seria estranho andar com ele armado em dia de sol.

Vou lembrar um fato ocorrido em Porto Alegre. No dia da festa de Corpus Christi, depois de uma intensa preparação e mobilização, uma multidão se reuniu para celebrar. Como o céu estava coberto de nuvens escuras, a maioria se preveniu com seu amigo guarda-chuva. Em plena praça, começando a Missa, presidida pelo Arcebispo, logo começou a chover. O cenário virou guarda-chuvas armados para defender a multidão da água que caía do céu. Como não demorasse serenar, logo foram fechados. Muitos os guardaram em sacolas, outros os colocaram debaixo das cadeiras e, assim, o amigo guarda-chuva deixou de ser importante.

No entardecer, as equipes de limpeza e ordenamento da estrutura utilizada ficaram surpresas por encontrarem tantos guarda-chuvas abandonados e, a maioria estava debaixo das cadeiras. Comentando o fato, um jovem falou: “Observem bem o que acontece com o guarda-chuva! Quando se precisa dele, logo é lembrado e valorizado. Quando não precisamos mais, facilmente é esquecido. Assim acontece com muitas amizades”.

Correr em busca de amigos em horas de crises e dificuldades parece ser um fato humano muito normal. Fazer-se amigo de quem está passando dificuldades revela um alto senso de humanidade. O que não fica bem é esquecer os amigos feitos na crise, quando tudo anda bem para nós. Amizade de guarda-chuva é esse tipo de amizade oportunista que decepciona quem está sempre disposto a ajudar e servir.

Há sempre um risco para quem cultiva a amizade de guarda-chuva. Exercitar esse modo de fazer amigos pode se tornar um caminho de solidão.

Um dos critérios da verdadeira amizade é que seja durável. Usar os outros em proveito próprio e em momentos passageiros, vai criando um clima de desconfiança e isolamento.

É verdade que o amigo certo se manifesta na hora incerta. Mas não esqueçamos que o elegante trato com o guarda-chuva pede que o deixemos guardado com carinho e em condições, quando é dia de sol, para podermos contar com ele em dia de chuva. Amigos para sempre é o que nós devemos ser, na primavera ou em qualquer das estações, nas horas tristes, nos momentos de prazer, amigos para sempre.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.