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Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 23 de dezembro
Como vão as festas tradicionais?
Como vão as festas tradicionais?
Pixabay

No coração das pessoas e de um povo há sempre lugar para surpresas. De um lado, afirma-se que o secularismo está avançando e demolindo os símbolos da tradição religiosa. De outro lado, ano a ano, aumentam as multidões nas romarias tradicionais e a participação nas festas populares. Divulgam-se pesquisas comprovando a diminuição numérica de membros das religiões históricas e o aumento das seitas. Em contrapartida, no andar da carroça e, tantas vezes, por decepção de promessas e milagres fáceis, muitos voltam ao ninho original, atraídos pela saudade das festas tradicionais.

Lembro-me que nos anos setenta do século passado, proclamava-se, em alto e bom tom, o tempo da “morte de Deus”. O progresso científico estaria substituindo o Deus da tradição religiosa. Não haveria mais necessidade de recorrer a ele, nem aos santos para garantir o sucesso das colheitas, nem a cura de nossas doenças. A capacidade humana haveria de substituir a necessária ajuda de Deus. Por surpresa, a chegada do novo milênio veio confirmar o contrário. Mesmo de forma confusa, a humanidade se depara com as grandes questões relacionadas à vida e à necessidade de Deus. “A humanidade está com saudades de Deus!”

Não podemos ignorar a força de contágio suscitada pelos meios de comunicação social. Estes não só reforçam as festas tradicionais, mas despertam multidões em torno de novas devoções que mobilizam a festa das permanentes romarias. Não podemos prender sonhos e nem fechar caminhos para quem deseja andar em busca de algo melhor e de horizontes mais vastos.

Falo por experiência própria, por coordenar a Paróquia Santo Antônio em Porto Alegre e viver anualmente a romaria do dia 13 de junho. Nas quatorze missas celebradas no interior do santuário, nas três Missas campais e nas três procissões do dia, é incalculável a multidão que chega para viver a festa. Muitos passam o ano um tanto distantes, mas não deixam de participar da procissão luminosa na noite do dia 13. O fenômeno em torno de Santo Antônio e sua festa, cada ano é maior, melhor e mais concorrido.

Narro isto para dizer que as festas tradicionais fazem parte de uma herança, religiosa e cultural que não podemos ignorar. Felizmente, na medida em que aumentam os participantes, também aumenta a justa preocupação da Igreja em organizar e proporcionar oportunidades qualificadas de evangelização e celebração. É certo que uma festa popular bem preparada, sempre será bem celebrada.

A questão das festas está unida essencialmente à vivência e conservação do nosso cristianismo. Tradicionalmente, as festas sempre foram e continuam sendo veículos de catequese, centros de culto, focos de exercício da vivência comunitária e oportunidades favoráveis ao sentido da vida e da convivência. Embora, aparentemente se trate de aspetos secundários da vida religiosa, neles pode estar sendo decidida a sobrevivência de uma religiosidade sincera e animadora de toda a vida cultural de nossos povos.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 02.