Da varanda do meu quarto, olhei o dia se espreguiçar: as estrelas esmaecendo, o céu mais claro, a tênue luz.
Não tive pressa, acompanhei todas as cores
que o sol costuma sequenciar.
Foi estonteante, um doce delírio, difícil de relatar. Pensei nos filhos, agora distantes, saindo às pressas pra trabalhar.
Lembrei-me também, daqueles anos que eu costumava nunca parar: acordar cedo, cuidar de todos, para depois se dispersar.
Eu nem sonhava que seria doce envelhecer:
ter bem mais tempo, se surpreender em vez de se programar.
Esperar os netos, comer com eles, sentir-lhes a vida exagerar; não ter mais ciúmes, pelo contrário, deles se vangloriar. Saborear cada momento.
Trocar meu antigo medo por novo sonho. E até ajudá-lo a se realizar.
Não precisar de mais nada que o amor não possa dar.
Deixar às claras todas as coisas, pôr ordem na casa inteira, desfazer-se das velhas ideias, ter a coragem de arriscar, de se expor de se declarar.
Esperar por resultados sem a cobrança de outros tempos.
Ter agora aquela paciência que nos faltou ao começar.
Ser companheira e ter mais tempo pra conversar, pra passear de mãos dadas,
deixando os outros se perguntando
se é por amor ou pra se apoiar.
Não se importar em fazer loucuras se o coração o determinar.
Dar graças a Deus e também aos homens deixando um anjo nos inspirar.