Uma pesquisa realizada pela TNS Global Market Research, uma das maiores consultorias de informação do mundo, comprovou as suspeitas: o brasileiro é imbatível no chuveiro. Em média, tomamos banho 19,8 vezes por semana, quase três vezes por dia, superando, de longe, russos, com 8,4 banhos semanais, japoneses, com 7,9 e franceses, 7,7. O hábito que faz parte do nosso dia a dia foi herdado dos indígenas. Conta-se que os primeiros portugueses que aqui chegaram estranhavam o costume de os índios se banharem várias vezes por dia, até – literalmente – eles próprios sentirem na pele o calor dos trópicos e aderirem ao costume, por si só saudável. Melhor, porém, seria se tivéssemos o mesmo zelo higiênico para partes determinadas do corpo. É o que garante o pediatra e infectologista Edimilson Vigotski, para quem não faria mal se tomássemos menos banhos e lavássemos mais as mãos. “Contribuiria para evitar doenças como conjuntivites, gripes e resfriados, entre outras”, afirma.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lavar as mãos habitualmente, impedindo a propagação de germes e fungos por mais tempo, reduziria em até 40% a incidência de infecções gastrintestinais (como a diarreia), oculares e de pele. O impacto seria positivo nos países em desenvolvimento e emergentes. No Brasil, por ano, 400 mil pessoas, incluindo idosos, são internadas devido a complicações da diarreia. O problema é mais grave em crianças de até 5 anos. Em 2011, mais de 130 mil crianças desta faixa etária foram internadas em razão do problema. “Elas são as mais afetadas em função da falta de noção de higiene e do comportamento que permite que se tenha acesso aos agentes infecciosos: ao porem, por exemplo, a mão no chão e, depois, na boca, nariz ou olhos”, explica Edimilson Vigotski. Segundo ele, esse grupo, quando adoece, é o que apresenta mais probabilidade de ter complicações que podem levar à morte.
Lavar as mãos corretamente com sabonete, ao chegar em casa, é uma medida de higiene e de cuidado com todos os que coabitam no espaço doméstico. Uma criança que, por exemplo, traz germes de creche ou da escola pode infectar a todos na família com o vírus influenza, da gripe, uma vez que esse pode sobreviver por mais de 48 horas em superfícies como interruptor de luz, controles remotos, bocal de telefone ou maçanetas – locais tocados por todos os moradores de uma residência. Lavar as mãos com sabonete reduziria consideravelmente essa transmissão. Para isso acontecer, no entanto, é necessário que as crianças sejam bem orientadas. O que nem sempre acontece. Uma pesquisa encomendada em 2010 pela Unilever (fabricante de produtos alimentícios, de higiene e de limpeza) e realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) junto a mães brasileiras de diferentes classes sociais apontou que apesar de uma grande maioria delas (84%) afirmar lavar suas mãos com sabonete após ir ao banheiro, apenas 25% confirmaram se importar que seus filhos façam o mesmo. E mais: 40% delas revelaram que seus filhos apenas lavam as mãos até três vezes por dia.
A questão, portanto, é cultivar bons hábitos de higiene. Afinal, tão importante quanto vacinar uma criança contra todas as doenças possíveis é ensinar a ela, desde cedo, a importância dos bons hábitos de higiene, entre eles o de lavar as mãos em diferentes situações e não apenas após usar o banheiro ou antes das refeições. Para isso basta apenas mais atenção, tempo e boa vontade por parte dos pais e das escolas. A mesma pesquisa realizada pelo Ibope revelou que 72% das mães ouvidas concordam ser fácil ensinar às crianças o hábito de sempre lavar as mãos com água e sabonete. O problema é que 57% delas acham cansativo ter que relembrar aos filhos esta necessidade e apenas um terço acredita que seus filhos, na escola, lavam as mãos com sabonete. Para essas, fica o aviso: por mais desgastante que seja, ser pai e mãe é uma ocupação em tempo integral. Dá trabalho, mas nada pode ser mais gratificante do que a sensação de ensinar aos filhos a fazer a coisa certa.