Não tenho nenhuma intenção de estragar a festa. Porém, creio que vale a pena pensá-la mais e melhor, pois a festa continua! Perguntamos: o que mesmo faz com que a festa continue e deixe marcas de saudade e vínculos de amizade? Já participei em muitos tipos de festa e em muitos grupos diferentes. Olhando e observando com atenção, percebem-se as maiores contradições no modo de ver, fazer e viver a festa.
Já participei e presenciei festas, onde a preocupação pelo cenário externo, pelos pratos requintados e rituais complicados era tão grande que os donos da festa não conseguiam nem sorrir, nem dar atenção, nem expressar qualquer sentimento acolhedor. Todas as energias eram sugadas pela exterioridade da festa e não pelo seu sentido humano e, menos ainda cristão.
Um dia, após ter participado de uma festa jubilar de casamento, perguntei ao casal homenageado como se sentiam depois da festa. Por surpresa, ouvi deles lamentos por terem gasto tanto e estarem tristes pelos exageros acontecidos. Disse o marido: “Não era isso que nós esperávamos!” Até mesmo um grave acidente havia acontecido com um convidado alcoolizado, após a festa.
Já participei de festas em comunidades simples, onde as lideranças preparavam um chá de ervas e uns biscoitos para unir o povo e aproximar as pessoas. Incrível era a alegria da festa dos pobres em poder sentar-se juntos, conversar, ouvir música, dançar com respeito e voltar para casa sem riscos de velocidade, pois a maioria estava a pé.
Numa paróquia, onde tive a graça de servir como Pároco, fizemos um mutirão de bênçãos de casas nas capelas. Cada família visitada era convidada para a Missa no fim do dia e também motivada a levar um prato de salgados ou doces para partilhar após a Missa. O convite já ressoava como festa. Impressionava a alegria de poder estar juntos na celebração e pôr em comum alguma coisa a partilhar! A festa dos simples está mais dentro da pessoa do que no aparato, mais no coração do que na comida, mais no ser do que no aparecer.
O que faz a diferença e garante os bons resultados de uma festa? Quais seriam os bons resultados? Bastam os elogios e lisonjas? Bastam o luxo e cardápios exóticos? Para que a festa continue, deverá saciar, um pouco, o coração; criar relações de empatia; garantir leveza e manter a alegria para o dia seguinte também. Quando se quer esgotar toda a alegria da festa num só momento, facilmente se termina no vazio do desencanto.
Tantas vezes na vida, há alegrias que terminam em tragédias e há dores que terminam em festa. Só uma vida despojada de egoísmos e vaidades pode se tornar canção, dança e jogo autêntico. Quando se acolhe a vida como dom, a existência humana pode cantar uma canção diversa daquela que conhecemos. A verdadeira festa vai acontecendo a partir do momento em que a pessoa leva a sério a educação à vida real.