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Domingo, 28 de Abril de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 17 de abril
É possível viver a alegria pascal?
É possível viver a alegria pascal?
Pixabay

Há uma pergunta inquietante que percorre os cantos da terra, onde os humanos se deparam com realidades tão obscuras e agressivas: Como se pode falar de alegria pascal, quando sabemos que há tantos impedimentos que a roubam da humanidade: as guerras, os sofrimentos, as injustiças e agressões de tantas formas?

Na verdade, a alegria pascal não é uma sensação alienada ou alienante, mas um direito sagrado de todos os humanos. Em todo o ser humano existe um pedaço de solidão que nenhuma intimidade humana consegue preencher. É ali que Deus nos encontra. É ali, nessa intimidade, que se encontra o segredo da alegria do Cristo Ressuscitado. A alegria é como um pedaço de chão que cultivamos em nós; é como uma pequena quadra de esporte onde exercitamos a liberdade e a espontaneidade.

Como cristãos, discípulos do Crucificado-Ressuscitado, não podemos cruzar os braços diante do ser humano, vítima do ser humano. Reduzir à miséria o que há de mais precioso e sagrado que é a pessoa, imagem e semelhança de Deus, é inadmissível. A justa indignação faz parte da fé cristã. Porém, na ânsia de maior justiça não podemos renunciar o cultivo da alegria interior oferecida e garantida a todo o cristão pela Páscoa do Senhor. Caso renunciemos nosso direito à alegria cristã, estaríamos nos vergando sob o fardo de nosso desespero e oferecendo à humanidade a nossa tristeza. Diante de tantos problemas seríamos mais um problema.

Por acaso, para viver na alegria estaríamos impedidos de combater e lutar pela justiça? Ao contrário! Sabemos que a alegria não é apenas uma euforia passageira. É animada por Cristo em homens e mulheres plenamente lúcidos quanto à situação do mundo, capazes de assumir grandes desafios e empreender a via-sacra da vida, na certeza de um final feliz.

A estas alturas da reflexão, também é importante lembrar que a alegria pascal não é uma diversão passageira ligada a uma festa, ou um momento festivo. A verdadeira alegria pascal inaugura-se na certeza de que o “último inimigo foi vencido, isto é, a morte” (1Cor 15,26).

São Paulo insiste: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,4). Diante desta insistência de Paulo para viver a alegria, o que nos deixa inquietos é a palavra “sempre”. Na verdade, nem sempre estamos alegres pelas muitas interferências que despontam no caminho, como: doenças, intrigas, angústias e situações de pobreza etc. Porém, mesmo assim podemos “ser alegres”, embora nosso rosto não consiga manifestá-lo.

A Páscoa de Cristo resgata, ao ser humano, o argumento imbatível da possível alegria permanente, mesmo que esta precise conviver com o cotidiano da cruz. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23). Em Cristo não há qualquer sintoma de masoquismo, mas um amor sem limites, capaz de abraçar a cruz e nela morrer para ressuscitar e garantir a todos a possibilidade da ressurreição.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 02.