Não faltam cargas de preconceitos quando nos referimos a Cristo, à fé e à religião. Por falta de formação, é possível que um bom número de pessoas, logo pensem que, em Cristo, a festa mudou para pior. Tantos imaginam que Jesus veio morar conosco para desmanchar prazeres e jogar um balde de água fria no entusiasmo da vida. Enquanto persistir esta visão preconceituosa por uma visão moralista ou permissiva, sempre haverá uma barreira para unir o que há de mais precioso que é a fé com a vida e a vida com a fé.
Realmente, em Cristo, a festa mudou! Por ser filho de uma cultura e de um povo, ele participou ativamente das festas religiosas de Israel. Mas, foi entrando no coração das festas do tempo, que Jesus conferiu um novo significado. A partir de Cristo, a razão da festa centra-se na salvação realizada por ele. João menciona a ida de Jesus a Jerusalém para a festa das Tendas (cf. Jo 7,2ss). É ali, dentro da festa que ele manifesta qual é o novo centro e a nova razão da alegria (Jo 7,37-39).
Na festa da dedicação do Templo, ocorre a mesma mudança quando ele mostra ser o novo Templo, identificado com o Pai (cf. Jo 10,22ss). É evidente que a maior revolução da festa acontece em torno da festa da Páscoa. Da antiga libertação passa a realizar a nova e definitiva libertação. Ele se faz o Cordeiro Pascal, imolado por nós. Além do mais, a Páscoa, a partir de Cristo, passa ser a festa da humanidade, de todos os povos.
O livro do Apocalipse amplia ainda mais a alegria da festa quando apresenta a multidão dos eleitos, com ramos nas mãos, cantando novos cânticos festivos ao Cordeiro Pascal, que os libertou com o seu sangue (cf. Ap 5,7-12; 7,10ss; 14,3).
A Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, prosseguindo nos caminhos da história, assumiu a missão de mudar o rosto da festa, imprimindo-lhe o modo novo de vivê-la, na dinâmica da mudança que Cristo inaugurou. A antiga festa do descanso ligada ao sábado, por imitação do descanso divino na Criação, passa ao Domingo. O Cristianismo vê o Domingo, dia da Ressurreição (cf. Mt 28,1ss).
A fé cristã não opõe a festa como inimiga do Cristão. Qualquer pessoa de bom senso reconhece que existem modos e modos para festejar. Por ter razões de partilhar a alegria da vida, o Cristão é chamado a saber os limites e modos de uma festividade. Conheço uma admirável cristã de mais de cem anos. Sua filha que a acompanha contou-me que ela gosta muito de festa. Geralmente é uma das primeiras que chega e uma das últimas a sair. Um dia perguntei à vovó se ela gostava de festa. Respondeu-me que, assim como se sente feliz na Missa da comunidade, também se sente feliz com a alegria dos outros numa comemoração festiva.
Como em Cristo a festa mudou, creio que nós cristãos podemos contribuir para que a festa se encaixe também num caminho harmonioso de salvação e não de perdição. A fé, cuja luz parte de Jesus Cristo também pode brilhar com sentido novo em nossas pequenas ou grandes festas do cotidiano.