Como adultos ou na terceira idade, enfrentamos a real dificuldade de lembrar o que se passou em nossa juventude. Vivemos em outros tempos. Lançamos raízes em outro terreno. Como tudo muda rápida e profundamente, não é estranho confirmar que passamos nossa juventude condicionados a dispor de poucos meios; a ouvir poucas vozes de opinião e a usufruir o pouco para sobreviver. Nossas lembranças também são relativas à simplicidade do tempo vivido.
Como adultos ou na terceira idade convivemos hoje num cenário turbulento e, até certo modo, o administramos. Porém, nossa juventude entra em cheio neste jogo complexo dos meios sofisticados, tantas vezes com seus fins equivocados; ouve as mais diversas e contraditórias informações e não deixa de se envolver na apresentação consumista. Era mais fácil ser jovem no passado? É mais fácil ser jovem, hoje? A estas perguntas sobra dizer que ontem e hoje são tempos diferentes.
Dentro de nosso tempo, rico em novas conquistas, mas eticamente maltratado, onde a vida e a convivência são marcadas por crises sem precedentes, estamos nós e nossa juventude. Se hoje estamos assim, amanhã o que será? Como será o futuro de nossas crianças que amanhã serão jovens e, de nossos jovens que amanhã serão adultos? E o mundo dos idosos, mesmo que se cante a vitória da longevidade, como será? Haverá asilos suficientes, ou geriatrias para todos?
Tantas perguntas com incertas respostas, não deverão ser feitas para nos deprimir, mas para nos ajudar a pensar. Em fraternidade com a juventude não é somente um tema de Campanha da fraternidade, nem apenas uma explosão da jornada mundial da juventude. Creio que é uma oportunidade para sentarmos frente a frente para tentar nos entender, nos aproximar e desenhar juntos um futuro mais humano e solidário.
Este cultivo de fraternidade com a juventude, conta com o lado simples e humano, do saber brincar de roda, deixar os computadores desligados e os televisores sem imagens, para olhar-nos “de coração a coração”. Há uma imensa carência silenciosa de compreensão, de ternura e vigor, de credibilidade e mística em nossa juventude. Tantos sinais avessos gritam: “Olhem para mim! Estou vivo! Sou alguém! Preciso dos adultos e conto com a vossa atenção, compreensão e sabedoria!”.
Em fraternidade com a juventude passa pelas escolas e pelas Igrejas, pela política e pela economia, desafiando a todas as instituições. Somos interpelados a uma global reflexão e avaliação. Será que nós, mais velhos, somos para os jovens um estímulo de vida e de esperança?
Os pais são para os filhos uma escola de amor que confirmam o valor da família? Nós, religiosos e religiosas, padres ou bispos, somos para os jovens uma presença animadora a entregar tudo pela causa do Reino?
Enfim, creio que a fase romântica da euforia momentânea está passando. Hoje, uma corajosa virada mística nos provoca a crer diferente, a não perder de vista o que há de mais primário no viver humano e, quem sabe, investir numa mudança de época que tenha rosto de alegre esperança.
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