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Sábado, 28 de Setembro de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 28 de setembro
“Erguei vossos olhos e vede...” (Jo 4,35)
“Erguei vossos olhos e vede...” (Jo 4,35)
Pixabay

Existem expressões simbólicas que expressam experiências reais da vida e situações que nos atingem. Andar de olhos baixos pode simbolizar desânimo, tristeza, desesperança, cansaço, distração, entrega, alienação, indiferença...

Olhos baixos podem ser sintoma de uma nova doença que se chama “presentismo”, própria de nossa sociedade de consumo que não cultiva o reconhecimento e a gratidão ao passado e nem tem muito interesse de investir no futuro. Usufruir ao máximo as satisfações do “agora”, como diziam os Romanos: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos!”.

Olhos baixos pode ser uma atitude simbólica e provocadora do individualismo de nossa época, que faz tanto mal à convivência social, à atividade humana, às instituições e estruturas que dependem da pronta participação e contribuição das pessoas. É verdade que há situações e momentos na vida e na história, que pesam demais, contagiam e forçam as pessoas a baixar os olhos.

Olhos erguidos, ao contrário, são uma simbologia de coragem, ânimo, alegria, esperança, altruísmo, atenção, sintonia, perspectiva, comunicação, vigilância, sensibilidade e compaixão. A energia interior da pessoa move todo o seu ser para mantê-la erguida, com olhar amplo e perspectivas esperançosas.

Nos momentos críticos, nos quais vivemos atualmente, faz-se necessário ouvir e acolher de novo o apelo que Cristo fez aos discípulos na Samaria, onde colheu as primícias de sua missão: “Erguei vossos olhos e vede os campos: estão prontos para a colheita” (Jo 4,35).

Jesus Cristo é protótipo do homem de olhar erguido. Ele não passou distraído em nossa terra. Por viver em sintonia com a vontade do Pai, estava sempre de olhar atento à realidade humana e o mundo que o rodeava. “Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Vendo a multidão necessitada, “tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e, partindo os pães, os abençoou e entregou aos discípulos e os discípulos para as multidões” (Mt 14,19).

A síntese do Evangelho, proclamado por Jesus nas Bem-aventuranças, ao povo que o seguia, começa afirmando: “Naquele tempo, Jesus levantando os olhos para os seus discípulos, disse...” (Lc 6,20). Aos discípulos de olhar mesquinho, Jesus diz: “Vocês têm o coração endurecido. Vocês têm olhos e não enxergam, têm ouvidos e não escutam” (Mc 8,17-18).

Se tantas vezes temos motivos humanos para andar de olhos baixos, são muito maiores os motivos para erguer nosso olhar com a inesgotável força da esperança, que jamais decepciona. Em nome da fé cristã, jamais podemos deixar de olhar a realidade que nos cerca, mesmo que seja assustadora. Em nome da mesma fé também não podemos desviar o nosso olhar do Crucificado-Ressuscitado, pois ele é a razão da fé e a força secreta da esperança. Agora e sempre escutemos esta ordem: “Erguei vossos olhos e vede...” (Jo 4,35).

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.