Num círculo de palestras de formação cristã, em Porto Alegre, passaram muitos especialistas em assuntos de teologia. Todos eram bem formados e ótimos comunicadores. O número de participantes era grande e interessado. Não faltavam perguntas, nem respostas. Havia discussões e até discordâncias dos ouvintes, especialmente quando se tratava temas de moral e ecumenismo.
Entre os participantes havia gente de todas as idades e níveis culturais.
Uma simpática Senhora, de cabelos brancos e sempre sorridente, vinha acompanhada de sua filha e sentava no seu canto com o terço na mão. Manifestava interesse em acompanhar os assuntos, mas também desfilava as contas do rosário o tempo inteiro. Sem nenhuma pretensão, a simpática Senhora foi chamando atenção de muitos participantes do curso.
No final de tudo, como é costume, a coordenação encaminhou uma avaliação em grupo. No grupo onde estava a Senhora do terço, também estava um indivíduo que se julgava meio dono da verdade. Vendo-a com o terço na mão começou a criticar sua atitude e questionar sua forma antiga de religiosidade. Foi o momento, onde a sabedoria dos simples se manifestou na frase da mulher: “Não discuto minha fé, prefiro vivê-la”.
O grupo de avaliação ficou em suspense, mas admirado. No final do curso teve um momento para depoimentos. Foi então que a Senhora do terço levantou-se com seu tradicional sorriso e falou com simplicidade. Avaliou o círculo de palestras como muito positivo e oportuno e também fez um depoimento de sua experiência de vida cristã. Ressaltou que era analfabeta, tinha aprendido o catecismo antigo de cor e, por muitos anos, fora a única catequista numa região do interior do Rio Grande do Sul. A região era pobre, em tudo. Além da catequese, que passava com muito amor às crianças, ia também visitar os doentes e levar comida a muitos famintos abandonados.
Como dona de casa, dedicava-se ao cuidado dos filhos e do marido e rezava muito, especialmente durante o trabalho cotidiano. “A oração foi a fonte da minha coragem”. Por fim, agradeceu a oportunidade de participação; elogiou o fulano que a questionou no grupo e afirmou categoricamente: “Não discuto minha fé, prefiro vivê-la”. Nesta hora foi aplaudida por todos como se tivesse feito a melhor palestra do curso. Por fim, o último palestrante da noite concluiu: “A síntese de tudo o que foi dito nas palestras foi comunicada pela Senhora do terço, obrigado!”
Não existe um instrumento para medir a qualidade da fé, nem mesmo a quantidade. Só o saber sobre Deus é muito pouco. Só dizer que se tem fé, também é insuficiente, pois a fé, sem obras é morta.
Viver a fé, implica no conhecimento, sim, mas também na experiência da afeição e nas ações decorrentes das convicções e de nossos afetos. Creio que a Senhora do terço, com seu sorriso, suas convicções, sua participação comunitária e suas obras de caridade, realmente são uma síntese da autenticidade da fé.
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