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Sábado, 27 de Abril de 2024
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Mensagem do dia 19 de outubro
Os sinos voltaram
Os sinos voltaram
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Numa Paróquia deste Brasil havia uma torre com um conjunto de sinos importados da Alemanha. Era costume acioná-los na hora da Ave-Maria e nos domingos, antes das Missas. A cidade se orgulhava dos sinos e de sua rara harmonia. Quando passava algum visitante, era espontâneo o elogio aos ditos sinos. As crianças cresciam marcadas com estes sons que despertavam para a beleza, o senso do sagrado e chamavam o povo para a oração.

O dito “progresso”, porém, veio entrando na cidade e trazendo novas indústrias, novos costumes, novos valores e até novas e requintadas exigências. Não demorou muito, que um grupo de ilustres novos moradores se reuniu e solicitou ao poder público, a suspensão do toque dos sinos, pois estes atrapalhavam sua rotina de trabalho e de sossego.

Os sinos da paz e da oração começaram se tornar argumento de conflito e desencontro. Para os moradores nativos o som dos sinos fazia parte, não apenas da paisagem da cidade, mas de sua própria vida. Um idoso chegou a dizer que a batida dos sinos já estava em sintonia com as batidas do seu coração. Mas para quem vinha com a fúria do progresso, os sinos eram estorvo à sua mente ocupada e nada acrescentavam às suas vidas. Eram um corpo estranho. Pouco ou nada falavam.

Entre dores e clamores, lamentos e acusações, finalmente foi decretada a suspensão do toque dos sinos. A cidade parecia não ser mais a mesma. A população habituada a entender-se com os sinos e se sentir convocada para a oração, parecia perdida e abandonada.

No meio desta sentida ausência, uma criança perguntou à mãe: “mãe, onde foram os sinos?”. E a mãe respondeu: “Foram embora!”. E a criança inocente perguntou ainda: “Mas, quem os levou?”. A mãe respondeu: “Foram os que não gostavam deles que os enterraram no silêncio!”. “Então, os sinos morreram?”, perguntou o menino. “Não, meu filho, eles foram mortos!”, respondeu a mãe. O diálogo continuou, motivado pela perda e na mesma proporção da tristeza do povo.

Os novos habitantes da cidade se tornaram malvistos e rejeitados. A situação foi se tornando sempre mais grave, causando-lhes um mal-estar pior do que o estorvo dos sinos. Foi então que decidiram rever sua posição e começar um diálogo com a comunidade. O diálogo foi clareando a realidade e esta começou suscitar o respeito pela história e pelas tradições dos habitantes nativos. Não demorou muito que os sinos voltaram a tocar, ou então ressuscitaram para o menino preocupado.

Ignorar a história, ou ser indiferente a ela, constitui-se um dos grandes pecados, não só para a tradição judaica, mas para toda a pessoa educada. O respeito pela memória e sua evocação, também faz parte da fé cristã que valoriza a história de uma comunidade, com seus símbolos e sinais. Os sinos voltaram! Tantas vezes dar um passo atrás é sinal de sabedoria e capacidade de resgate daqueles valores que muito contribuem com a harmonia e o futuro de um povo.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.