Diz uma lenda que numa noite de céu estrelado, uma atrevida estrela foi perguntar ao sol se ele não estava se vendo ameaçado pela noite, enquanto ela exibia todo o seu encanto. Na manhã seguinte, grandes nuvens deixaram o dia cinzento. O sol não conseguiu aparecer às multidões que o esperavam. À noite, a mesma estrela, sabendo das nuvens foi novamente ridicularizar o sol. O sol não se importou. Simplesmente continuou tranquilo sem perder o brilho e confirmar a sua verdade de sempre.
Não há noite que elimine o sol, nem nuvem que possa aprisioná-lo. A verdade é assim! Mesmo ridicularizada, continua corajosa e sem perder sua força transformadora. Quem perde não é o sol, mas é a atrevida estrela que se expõe ao ridículo. O desejo de aprisionar a verdade não traz prejuízos à verdade, mas a quem se engana a si mesmo. Mesmo negada, ou traída, pisoteada ou ferida, a verdade continua sendo o que é e continua se oferecendo como possibilidade de vida e justiça para todos.
Em nossos dias exagera-se em relação aos meios conquistados e às facilidades oferecidas. Porém, parece aumentar sempre mais o número dos insatisfeitos por se equivocarem nos seus fins: meios sofisticados e fins equivocados. O certo é que a verdade não fica rindo de quem a nega depois chora por seus enganos. A verdade não menospreza os meios e as conquistas humanas, mas lhes oferece clareza de fins para que se tornem favoráveis à vida e à história.
Um dos atentados à verdade mais comuns na atualidade é o chamado “consumismo”. Este se serve de todos os meios para promover a venda a qualquer preço e de qualquer jeito. Aqui, negociam-se artimanhas em favor da mentira, até mesmo com o auxílio da psicologia e da beleza. Não faltam embrulhos de mentiras em nome da verdade e de verdades como se fossem mentira.
Nesta artimanha de uma sociedade de consumo oferecem-se satisfações ilusórias e imediatas, como se fossem o segredo de uma vida realizada e feliz. O pior disso acontece, quando se entra neste tipo de sonho e se perde a capacidade de administrar a vida no seu realismo cotidiano com seus desafios e empenhos. O que não é verdadeiro passa a se conflituar com a verdade inscrita no próprio ser provocando frustrações diante do falso engano dos desejos insaciáveis.
O que é dito em relação ao consumismo, também vale para o mercado das ideologias, onde mentiras vulgares, como o ocultismo ou a magia, se apresentam com a roupagem de modernidade e de ciência. Assim também se apresentam certas doutrinas políticas que prometem fáceis paraísos a serem conquistados sem esforço.
Não sei se é justo ou não, mas desde tempos antigos, dizia-se que o povo gosta de ser enganado com mentiras agradáveis, ou com alienações que despertam e causam prazer. Dentro de um cenário assim, a verdade não parece bem-vinda. No entanto, mesmo exigente, é a única fonte de felicidade, pois uma construção autêntica só pode basear-se na realidade. Tudo o mais não passa de aparência, imediatismo e “presentismo” perigoso.