Fundo
Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 03 de julho
Tudo ou nada
Tudo ou nada
Pixabay

Dito com sinceridade e sem malícia parece profundo, mas em termos de religião, é bom não confundir mediano, equilibrado e limitado com medíocre, incompetente ou pusilânime. São palavras que precisam ser explicadas uma por uma. Ninguém pode ser chamado de pusilânime ou medíocre apenas porque não deu tudo para Deus. Não se exija do balde que tenha a mesma quantidade de água que um barril. O máximo do balde é tão máximo quanto o máximo do barril, mesmo que sua quantidade seja menor.

Já tive que enviar jovens ao psicólogo por causa desse tudo ou nada, desse oito ou oitenta e desse máximo que alguém exigiu deles, mas que eles não puderam dar. Evidentemente este alguém propôs que lançassem a flecha mais longe do que seus arcos conseguiriam. Foi erro de instrutor e não de arqueiro novato. Conversei com um deles que demonstrava exagerado senso de culpa por não dar a Deus o que dele o Senhor supostamente esperava. Fiz ver que o instrutor que exigisse que o aprendiz de motorista desse 180 km/h porque o carro suportaria seria um desequilibrado. Não se exige isso de quem não aprendeu o suficiente. E ainda assim, é loucura dar 180 km/h numa estrada que não suporta semelhante velocidade. Se desse 80km/h estaria dentro da legalidade e da prudência, ainda que andasse em velocidade menor do que a permitida. Não vale a potencia do carro. Vale a prudência do condutor. E a prudência muitas vezes recomenda velocidade moderada.

Ninguém é mau motorista porque não usou toda a potência da sua máquina. Mau é quem prioriza o acelerador e esquece o freio e a estrada. Parece, mas não é vida cristã nem santidade exigir de alguém mais do que este alguém pode dar. Não é santo condenar alguém porque não deu o máximo. Há que se ver o quando, o como e o porquê.

Jesus não disse que devemos ser tão perfeitos como o Pai. Estaria propondo o impossível. Na verdade estava era propondo plenitude humana. A sentença "posso ir só até aqui" nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser prudência! Não é traição a Deus nem é pusilânime reconhecer o nosso limite.

Foi esse o caso da menina que subia a montanha e parou para descansar, mesmo tendo forças de reserva para subir. Foi chamada de fraca e acomodada porque não deu tudo. Mas chegou antes das outras que, forçadas pelo instrutor, deram tudo e, mais adiante, precisaram descansar três horas. A parada dela enquanto tinha forças foi bem mais proveitosa. Uma estratégica parada no pit-stop pode valer uma corrida!

Ensinar, aos jovens que Deus quer tudo deles é esquecer a psicopedagogia das idades. Nos evangelhos há, sim, esta radicalidade, mas nunca ao ponto do desequilíbrio. Sugiro cuidado com esta proposta de tudo ou nada. Já jogou e vai jogar muitos num divã de psicanalista. Que ninguém se sinta medíocre porque atirou a flecha e não acertou o alvo, ou porque chutou e não fez o gol. Não conseguir não é a mesma coisa que não querer... Igreja compassiva ensina que entre o oito e o oitenta, os outros números também contam.

Pe. Zezinho, scj (www.padrezezinhoscj.com)