No coração da vida, há um fenômeno causado pela tendência natural da pessoa e dos grupos humanos: desistir quando não se é correspondido; distanciar-se quando não se é procurado; abandonar quem era amigo, quando uma amizade entra em crise e romper relações quando se é traído. O modo humano de amar é muito frágil. Facilmente rompemos a barreira e terminamos no campo do egoísmo, ou no fechamento.
Não é estranho ao mundo atual o aumento rápido dos que somam a multidão dos solitários. Ressoam mal, dentro de um cenário mundial de fantásticos progressos, expressões como estas: “Estou desiludido! Decepcionei-me! Não era isto que eu esperava! Vou fechar-me e curtir a solidão! Não confio mais em ninguém! etc.”.
Expressões assim não são estranhas nem aos casados, nem aos religiosos e nem a Ministros Ordenados. Na verdade, as relações e compromissos, dentro de nossa cultura, facilmente se desmancham no ar. Dentro deste cenário da atualidade ressoa como urgente o apelo a situarmos referenciais e argumentos que nos tornem fortes e perseverantes naquilo que é o mais importante da vida.
O tempo de preparação ao Natal pode ser acolhido como oportunidade especial e favorável para rever a qualidade de nossos compromissos. Neste acontecimento inconfundível, podemos encontrar a razão que venha resgatar a grande paixão para curar nossas humanas decepções, para retomar o sentido da vida e voltar a acreditar no milagre do amor.
Em tempo de Natal, os olhos poderão encontrar cenários de encanto com o jogo de luzes a enfeitar nossas praças, edifícios e árvores. Os ouvidos poderão saborear a nostalgia das músicas natalinas. De mãos em mãos poderão passar presentes e mensagens. Nas mesas preparam-se fartas ceias de Natal. Tudo poderá ter sua justa importância. Porém, se não acontecer um encontro maior, um “dar-se conta” da atualidade atuante de um Deus apaixonado, tudo terminará segundo a durabilidade de cada fenômeno, de cada momento e de cada objeto.
Um Deus apaixonado, é o Deus da história, paciente, misericordioso e sempre fiel. Para o amor, sempre criativo, de Deus não há dias de festa, nem feriados que sejam diferentes de um dia de trabalho ou um tempo de duras provações. Deus não oferece menos ou mais oportunidades em dia de domingo, ou numa segunda-feira. A medida do amor de Deus é amar sempre e sem medida!
Um Deus apaixonado assumiu em tudo a condição humana, fazendo-se em tudo igual a nós, menos no pecado, para entrar no coração da história sem jamais se retirar. Aquele que nasceu em Belém, um dia afirmou: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Para Deus não há decepções, nem greves, nem retirada. O cansaço do amor não atinge o coração de Deus. Nem mesmo as piores rebeldias humanas o poderão abalar. Cada Natal renova esta certeza: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14). Mesmo rejeitado pelos seus, há mais de dois mil anos, ele está no meio de nós!
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