Fundo
Sexta-feira, 01 de Novembro de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 31 de outubro
Vem, você me interessa
Vem, você me interessa
Freeimages

Vem, você me interessa.
Contudo, não sabia como pegá-lo, como atraí-lo, sempre tão rebelde!
Você me interessava, ainda que com leve aceno, tão incoerente e incompreendido.
Caniço vergado pelo vento das modas, dos encontros, das mil pessoas com quem cruzava. Precisava pegá-lo pelo coração.
Agora já não é mais o caniço vazio à mercê dos ventos. Já tem minha força, entrei como a seiva penetra na planta prestes a morrer. Cultivei você como uma planta para meu Pai, para que ele pudesse sentir o aroma das flores e comprazer-se: "Eis, é coisa boa...", e para que as pessoas pudessem admirar a planta e adorar o Criador: "Eis, ele é grande..."

Eu mesmo esculpi você, com cuidado e ternura: era madeira preciosa, encharcada, largada na água por longo tempo e destruída pela tempestade e pela enxurrada, arrastada e batida cá e lá. Madeira desconcertada, mal-adaptada.
Um dia eu o peguei, enquanto passeava pela minha criação. Uma tarde eu o vi. Gostei do esboço que entrevi. Ainda era desconexo, porém eu já via o objeto maravilhoso que podia moldar. Agarrei-o sem demora, e então você deixou-se pegar: já ia submergindo, tal era o estado de penúria! Sequei-o ao sol. Enxuguei-o bem, restaurei e o moldei com minhas mãos, com tenacidade, paciência e amor.

Não foi fácil, sabe... foi preciso esforço... mas sou bom nisso...
Um dia vi que você podia começar a função para a qual eu o moldara: ser vasilha na qual outros comessem. Você não entendeu logo que era uma vasilha. Continuava lá, tranquilamente, ao sol, secando, gozando da luz e do calor...
Será que para isto perdi muito de meu tempo tão precioso? Para que você se estendesse tranquilamente ao sol? Para seu prazer pessoal? Enquanto outros fazem fila por um pouco de sopa? Enquanto outros esperam para ver que a Criação é maravilhosa e bela para todos, é como uma planta fecunda com muitos frutos para todos?
E... finalmente dão glória e louvam o nosso Pai.

Giuliana Martirani, no livro "A civilização da ternura", da Paulinas Editora.