Heráclio, imperador de Constantinopla, expulsara dos confins de seu império, pouco tempo antes, os persas de Corsoe, quando no sul se divisou um perigo ainda maior: Maomé.
Dizendo-se investido de uma missão profética, depois de ter realizado a unidade dos árabes, lançara-os à conquista dos territórios dos “infiéis”. Com sua morte, ocorrida em 632, seus sucessores, o sogro Abu-Bekr e o califa Omar, invadiram a Palestina, em 634, ano em que Sofrônio, o sírio de Damasco, era eleito patriarca de Jerusalém. Ele não pôde celebrar o Natal, como de costume, na Igreja da Natividade de Belém, porque os campos adjacentes a Jerusalém estavam todos nas mãos dos muçulmanos. Estes já se preparavam para assediar a própria Cidade Santa. Os apelos do imperador Heráclito caíram no vazio.
Em Constantinopla, outra guerra estava em curso. De natureza religiosa, referia-se a uma das muitas e sutis distinções teológicas: o monotelismo. Era a última das heresias cristológicas, que atribuía a Cristo uma só vontade, a divina, menoscabando a natureza humana assumida pelo Redentor.
Heráclito, que devia enfrentar muitos outros perigos, decidiu ir à luta para dirimir a controvérsia teológica, assessorado por Sérgio, patriarca de Constantinopla – mais homem de corte do que teólogo. Resolveram entre ambos encontrar um compromisso entre a doutrina católica e o monofisismo, com uma série de anátemas que desembocavam na nova heresia monotelista.
Nem mesmo o papa Honório entrevira na presumida “unidade moral das duas vontades de Cristo” o perigo da heresia. Viu-o, pelo contrário, Sofrônio, o patriarca de Jerusalém, e outro campeão da ortodoxia, Máximo, o Confessor. Ambos, com cartas e escritos diversos (Sofrônio compunha até poesias), procuraram esclarecer o equívoco, mas a voz do santo patriarca estava a ponto de ser sufocada pelos fiéis de Alá que assediavam Jerusalém.
Em 638, Sofrônio, com a morte no coração, teve de entregar a Cidade Santa ao califa Omar. A dor foi tanta que, em pouco tempo, morreu. Dele nos chegaram algumas cartas e poesias.
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