As atividades são muitas, dia cheio: escola, aulas de inglês, natação, judô, balé, música...
Uma vida tão atarefada que chega a se assemelhar à de um adulto. Assim é a rotina de muitas crianças nos dias de hoje. "Preciso dar conta! Preciso acertar, vencer, saber!" Será que todo esse excesso de informações, atividades e pressões não pode gerar uma insatisfação, ansiedade, estresse, para não dizer um estado de infelicidade na criança?
Essa é uma realidade dos últimos tempos, conforme apontam inúmera pesquisas, como a realizada pela organização de proteção infantil Children’a Society. No Reino Unido, segundo a pesquisa, 1 em cada 11 crianças com mais de oito anos de idade estão infelizes. No Brasil, o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo (SP) fez um estudo com os pais de cerca de 900 crianças de 5 a 9 anos. Os resultados apontam que 22,7% das crianças apresentavam ansiedade; 25,9% tinham problemas de atenção; e 21,7 % problemas de comportamento.
Para a psicóloga do Centro Psicológico de Controle do Estresse, Maria Lúcia Rossi, o estresse e a ansiedade fazem parte da vida humana. “O problema é a quantidade desse estresse e o quanto eu lido com a questão.” O estresse em geral é uma reação do organismo diante de situações ou muito difíceis, ou muito excitantes. A criança, diferentemente do adulto, não possui maturidade emocional, por isso, conta com menos recursos para lidar com essas situações.
Causas - “O excesso de atividades, desorganização, pais estressados, tudo isso contribui para que a criança tenha um estado de estresse a ponto de necessitar de tratamento”, afirma a psicóloga. Pesquisas revelam que o estresse na criança muitas vezes pode estar relacionado a fatores internos e externos, da mesma forma que ocorre com o adulto. Assim sendo, o estresse pode ser criado por ela própria, de acordo com sua maneira de se perceber e perceber o mundo ao seu redor.
As fontes internas de estresse na criança são ansiedade, depressão, timidez, desejo de agradar, medo do fracasso e de punição divina, preocupação com mudanças físicas, dúvidas quanto à própria inteligência, interpretações amedrontadoras de eventos simples ou mesmo medo de ser ridicularizada por amigos.
Já as causas externas de estresse na criança são devidas às mudanças significativas ou constantes, responsabilidades ou atividades em excesso, brigas ou separação dos pais, ambiente escolar, morte na família, exigência ou rejeição vivida entre os colegas, disciplina confusa por parte dos pais, nascimento de irmão, doença e hospitalização, troca de professora ou de escola, pais ou professores estressados, medo de pai alcoólatra e até doença mental dos pais.
Sintomas - Para identificar se uma criança sofre desses problemas, é preciso observar um conjunto de sintomas. “As crianças ficam agressivas, desobedecem acima do normal, ficam mais deprimidas, ansiosas, choram muito, têm enurese (fazem xixi na cama), podem gaguejar, ter dificuldades na escola, para dormir, entre outros”, destaca Maria Lúcia. Porém, ela reforça que esses sintomas isolados não definem estado de estresse em uma criança.
Por outro lado, a psicóloga destaca a importância de a criança passar por situações estressantes. A criança não pode ser poupada demasiadamente. Do contrário, ela não terá chances de se preparar para o mundo de hoje.
“Partindo do conceito de que a felicidade pode ser definida como um estado de harmonia, conforto, equilíbrio na vida, na medida em que alguma situação estressante tira a criança desse equilíbrio, podemos dizer que isso leva a uma infelicidade”, orienta a psicóloga.
Evite o estresse e a ansiedade nas crianças
• Em primeiro lugar, os adultos precisam cuidar do seu próprio estresse, para servirem de modelo às crianças.
• Nutrir atitudes positivas, que envolvam a paciência, o prazer, a alegria de estar com as crianças, incentivando-as a resolver os problemas e desenvolver a autoestima.
• Não sobrecarregá-las com atividades extracurriculares. Escutar com seriedade o que elas têm a dizer sobre o assunto e procurar oferecer atividades que sejam do seu agrado.
• Respeitar o ritmo das crianças e não fazer comparações com outras, por exemplo, mesmo que os pais tenham um modo próprio de agir, também é uma ação indispensável.
• Em caso de conflitos conjugais, é fundamental evitar o envolvimento das crianças, pois muitas vezes elas se sentem responsáveis pela situação.
• Estimular a independência delas, contanto que se respeite sua etapa de desenvolvimento natural.
• Evitar que as crianças acreditem que só serão valorizadas e amadas se tiverem um desempenho perfeito em tudo que fazem.