Dizem os estudiosos que a pior crise do nosso tempo não é econômica, nem social e nem política, mas a crise de esperança. Se esta, como atitude criadora da vida, está em crise, o próprio dinamismo da vida se vê ameaçado. Daí a constatação real de que estamos, hoje, ameaçados pela cultura da morte. Não nos é difícil constatar que andamos oscilando entre o entusiasmo e o desencanto diante da vida, entre a euforia pelo avanço técnico e a impotência diante do destino, entre o sentimento de domínio da natureza e a deteriorização do meio ambiente.
Não nos é possível viver sem esperança ou sem esperanças. Sejam elas vitais ou triviais, esperanças pequenas ou grandes, a curto prazo ou a longo prazo. É evidente que cada tempo tem seus acertos e seus erros, suas esperanças e suas decepções, seu desejo de viver e seus cansaços existenciais, seu dinamismo de criatividade e suas acomodações. Conhecer as aventuras da esperança é envolver-se na íntima aventura do ser humano no que tem de admiração e desconcerto.
A esperança está profundamente enraizada no coração humano. Gabriel Marcel, um filósofo cristão, dizia que a esperança é a matéria da qual está tecida a nossa alma. Mesmo que as previsões do futuro humano não sejam das melhores, ninguém arranca da alma humana a força criadora da esperança. Continua verdadeira a frase dos antigos: “A esperança é a última que morre”.
A esperança como atitude criadora da vida necessita superar o pessimismo reinante e a desconfiança da vida cotidiana. Esta esperança desponta e se renova numa constante relação com a fé e a caridade. Cada uma das virtudes teologais fecunda a outra para um dinamismo de vida incontida que vai se eternizando no amor.
Não é em vão que a simbologia da esperança é uma âncora. Ela é a âncora de todas as virtudes, o apoio interior necessário, não só porque salva do desespero o pobre no deserto, mas também porque é o apoio de todos os que caminham na fé e se dirigem a Deus numa atitude de busca e de agradecimento. A fé põe a pessoa a caminho, mas a esperança o mantém e o impele na marcha, mesmo que seja depois a caridade que decide as leis do jogo do homem peregrino.
A esperança mantém em tensão a pessoa de fé e o projeta para o futuro. Graças à esperança, a vida humana se transforma em busca e em desejo infinito. Não ter mais nada e ninguém a esperar é o caminho da anulação do mais precioso potencial que a vida possui como dom e responsabilidade.
O desejo de infinito que sempre nos impele para o mais e o melhor, não é uma paixão inútil, nem um ímpeto psicológico, mas uma força e um impulso que Deus mesmo imprimiu no ser humano. Santo Agostinho viveu esta realidade e a expressou quando afirmava que o nosso coração anda sempre inquieto até que não repouse no Senhor. Porém, necessitamos cuidar para não nos equivocar, imaginando que algo finito venha saciar nossa sede do infinito.
Com o olhar fixo no futuro, o Cristão administra o presente e impregna de sentido tudo o que faz e tudo o que é.