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Segunda-feira, 23 de Setembro de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 23 de setembro
Os primeiros e os últimos
Os primeiros e os últimos
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Não é difícil tornar antipático o que deveria ser mais simpático. Não é estranho pintar como temível o que é mais amável. Não é novidade fazer guerra em nome da paz. Quando se passa uma ideia errada de Deus, complica-se o direito mais sagrado do coração humano e da humanidade. Nossas relações andam muito conforme a ideia que temos referente a quem nos relacionamos.

Um deus à medida humana, produz humanos desumanos, oprimidos e opressores. Quando se pensa a justiça de Deus à maneira dos homens, faz-se do justo um fabricante de injustiças. A doutrina da retribuição põe barreiras ao perdão, antecipa condenados e seleciona os justos, com quem Deus não sabe bem o que fazer.

A gratuidade é a marca maior do amor de Deus. A medida deste amor é amar sem medida. No coração de Deus a primazia é dada à bondade. Bem que o profeta Isaías dizia aos deportados que sonhavam vingança sobre os inimigos de outrora. Diz o Senhor: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e os meus caminhos não são os vossos caminhos” (Is 55,8).

Jesus nos deixa claro que Deus não age com os critérios da justiça e igualdade que nós imaginamos. Mais do que ficar medindo méritos das pessoas, como os humanos facilmente o fazem, Deus sempre procura responder a partir de sua bondade, humanamente incompreensível.

É lamentável quando se imagina um Deus ocupado em anotar cuidadosamente os pecados e os méritos dos humanos, para retribuir um dia exatamente, a cada um conforme o que mereceu. A lógica de Deus é diferente, e às vezes até oposta à lógica humana.

Em geral o que para os humanos é lucro, para Deus é perda; o que para nós está em primeiro lugar, para Deus está em último. Os primeiros serão os últimos e os últimos, os primeiros. Felizes são os que choram; os verdadeiros ricos são os pobres em espírito; quem quer salvar a vida a perde. Nosso Deus faz mais festa pela ovelha perdida e reencontrada do que pelas noventa e nove que estão na segurança.

Não existe nenhuma categoria humana que possa capturar a Deus em proveito próprio. Ele escapa a qualquer definição e revela continuamente novos aspectos do seu mistério. Crer no Deus amigo incondicional da vida, é a experiência mais libertadora que se possa ter, a força mais vigorosa para o bem viver e o bem morrer. Ao contrário: quando se cultiva uma falsa ideia de um Deus justiceiro e ameaçador, possibilita-se a neurose mais perigosa e destruidora da pessoa.

Por incrível que pareça, quanto mais se tenta negar a Deus e endeusar o ser humano e criar ídolos, mais a humanidade sente a verdadeira e nostálgica saudade do Deus que nos habita, mesmo que dele nos pensemos distantes. São Frei Pio costumava dizer: “Não acreditas? Não te preocupes: é Deus quem acredita em ti”. Diante do Deus Bom, revelado em Jesus, a única coisa que nos cabe é a confiança.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.