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Segunda-feira, 29 de Abril de 2024
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 14 de novembro
Vida agitada e silêncio criador
Vida agitada e silêncio criador
Pixabay

A realidade de nosso viver cotidiano nos mostra como estamos sempre envolvidos, chamados e ocupados para fora e para dentro, entre o material e o espiritual. A vida que é vida, é dinâmica e sempre necessitada de movimento, seja exterior ou interior. Quando nosso interior está povoado de ruídos e nossos sentidos ávidos de curiosidade e agitação, criamos um desequilíbrio sempre prejudicial à nossa saúde global.

Sem a retirada da pessoa para sua própria interioridade, sem uma reflexão solitária, a vida não se desenvolverá em sua fecundidade criadora e comunicadora. A história nos comprova que os grandes mestres da espiritualidade, da ciência, da arte e da pesquisa investiram muito tempo e cuidado à reflexão, à solidão e à meditação. Jesus Cristo retira-se para o deserto. Francisco de Assis vai ao Monte Alverne e aos eremitérios. Neewton, antes de elaborar seu sistema científico com tanta exatidão, vivia “Noite e dia incubando”, como ele próprio afirmou.

A verdade religiosa, científica e estética se revela a quem tem paciência de esperar e a capacidade de acolhida e de escuta. Sem um treino mental que faça calar os ruídos e tranquilizar a agitação é difícil encontrar o fundamental da vida, a escutar a voz da natureza e a Palavra de Deus que fala ao coração.

O silêncio ativo e cultivado está povoado de promessas eloquentes e criatividade fecunda. Por este motivo, o silêncio é o melhor instrumento da autêntica comunicação. A experiência deste tipo de silêncio e solidão é a terra fecunda donde brota a verdadeira palavra e a mais profunda relação.

Um recente professor de filosofia de Madrid, A. Muñoz Alonso, dizia que “As palavras são a excelência da razão; o silêncio é a genuflexão da inteligência. Ao silêncio e em silêncio as coisas se revelam no que verdadeiramente são: silêncio sonoro de Deus nas pessoas”.

Não podemos andar condenando os agitados e agitadores. Porém não podemos concordar que a agitação arranque de nós a interioridade e entremos num vazio que nos coloque à beira da loucura. Palavras e superpalavras, ações e superações sem cultivo do silêncio interior constroem uma fábrica de tagarelas e estressados que se tornam indesejáveis na companhia das pessoas. A pessoa que não é capaz de mandar calar seus lábios, sua fantasia, seu coração e sua mente, nunca chegará a escutar as verdades mais profundas e significantes da vida. Dificilmente entenderá a grandeza do destino humano.

No dia a dia da vida necessitamos nos ocupar com o “fazer”. Nossas atividades são parte da vida. Por nossas ações aprendemos também a nos fazer. Porém, necessitamos imperiosamente, num momento ou no outro, entrar no caminho do silêncio para percebermos a voz de nosso ser. O muito fazer sem a percepção de nosso ser nos faz virar máquina no risco de sucatear o que há de mais precioso que é a nossa existência.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.